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Se você já assistiu a filmes de guerra, séries militares ou jogou algum game de combate, certamente já viu aquela imagem em tons de verde onde soldados parecem enxergar no breu total como se fosse pleno dia. A pergunta que surge é: como isso é possível? Quais são os equipamentos utilizados? E, talvez mais curioso, como a humanidade descobriu que era possível enxergar no escuro?
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A resposta começa no início do século XX, quando cientistas perceberam algo fascinante: nossos olhos captam apenas uma pequena fração do espectro de luz existente, o chamado espectro visível. Além dele, existem outros tipos de radiação, como o infravermelho e o ultravioleta, completamente invisíveis aos olhos humanos, mas presentes no ambiente. Foi a partir do estudo dessas radiações que os pesquisadores descobriram que corpos vivos e objetos que geram calor emitem radiação infravermelha, independentemente da existência de luz no ambiente.
Esse foi o primeiro passo para imaginar que, mesmo no escuro absoluto, o calor continua sendo emitido e poderia ser detectado. Essa descoberta científica rapidamente chamou a atenção do setor militar, principalmente durante os períodos de conflito.
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A origem militar da visão no escuro
A aplicação militar começou a se desenhar durante a Segunda Guerra Mundial, quando os alemães criaram os primeiros equipamentos de visão noturna. Naquela época, eram dispositivos extremamente rudimentares e enormes, que precisavam de grandes fontes de energia e usavam iluminadores infravermelhos visíveis apenas para sensores. Embora fossem uma revolução para a época, eram tão grandes que precisavam ser acoplados a tanques ou usados com baterias imensas.
Após o fim da guerra, os Estados Unidos investiram pesado no aprimoramento dessa tecnologia. Durante a Guerra da Coreia e do Vietnã, surgiram os primeiros sistemas portáteis de visão noturna, embora ainda fossem pouco práticos, sensíveis e dependentes de iluminação auxiliar infravermelha. O grande salto tecnológico veio entre as décadas de 1980 e 1990, quando surgiram os equipamentos que conhecemos hoje, muito mais leves, eficientes e seguros.
Como funcionam os equipamentos de visão noturna
Atualmente, o exército americano emprega três tipos principais de sistemas de visão noturna, muitas vezes combinados para garantir máxima eficiência.
O primeiro deles é o imageador térmico, também conhecido como termovisor. Esse equipamento não depende de nenhuma luz visível, pois capta a radiação infravermelha emitida pelo calor dos corpos, sejam humanos, motores ou animais. A imagem gerada mostra áreas quentes destacadas, normalmente em branco, amarelo ou vermelho, sobre um fundo mais escuro. A grande vantagem é que funciona perfeitamente no escuro total, em meio a fumaça, neblina ou vegetação densa.
O segundo tipo é o intensificador de luz, aquele clássico dos filmes e jogos, que produz a famosa imagem verde. Ele funciona amplificando qualquer quantidade mínima de luz disponível, seja a luz das estrelas, da lua ou de ambientes distantes. Através de um tubo intensificador, os fótons (partículas de luz) são convertidos em elétrons, multiplicados milhares de vezes e projetados em uma tela de fósforo, gerando a imagem visível. E sim, é verde porque o olho humano percebe melhor nuances e detalhes nesse tom. Sua principal limitação é que, em escuridão total, como cavernas ou ambientes sem qualquer fonte luminosa, o equipamento precisa de iluminadores infravermelhos auxiliares.
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Por fim, existem os sistemas de fusão, ou sistemas híbridos, que combinam visão noturna tradicional com imagem térmica. Nesse modelo, o operador enxerga o ambiente em verde, mas com as fontes de calor destacadas em cores específicas, como branco ou laranja. Isso permite não apenas ver onde está, mas também identificar rapidamente qualquer presença viva, mesmo que esteja escondida atrás de obstáculos.
Principais equipamentos utilizados pelo exército americano
O exército americano utiliza diversos modelos de equipamentos baseados nessas tecnologias. Entre os mais conhecidos estão o AN/PVS-14, um monocular prático que se encaixa no capacete, o AN/PVS-31, um binóculo moderno de visão noturna usado por unidades de elite, e o AN/PSQ-20, que é um dos modelos híbridos mais avançados, unindo visão noturna e térmica no mesmo visor. Além desses, há miras térmicas para armas, câmeras acopladas a drones, sensores para helicópteros e até sistemas embarcados em veículos blindados.
Como a tecnologia funciona na prática
Na prática, o funcionamento é surpreendentemente eficiente. Imagine um soldado norte-americano em uma floresta densa, no meio da noite, sem qualquer iluminação. Usando um intensificador de luz, ele visualiza claramente as trilhas, árvores e obstáculos, mesmo que seus olhos sozinhos não enxerguem absolutamente nada. Se houver suspeita de algum inimigo escondido, ele ativa o termovisor, e qualquer corpo quente se destaca imediatamente, mesmo que esteja imóvel ou parcialmente encoberto pela vegetação.
Se estiver utilizando um sistema híbrido, o operador vê o ambiente em verde, mas com todos os objetos quentes destacados em outra cor, facilitando a identificação de ameaças em situações de baixa visibilidade.
O uso da visão noturna no mundo civil
Assim como muitas outras tecnologias militares, a visão noturna acabou migrando para o mundo civil, sendo utilizada em segurança patrimonial, resgate, vigilância, navegação noturna, caça, monitoramento ambiental, operações policiais e até em veículos de luxo, que já contam com sistemas de visão noturna embarcados.
O que antes parecia um superpoder de ficção científica, hoje é fruto de décadas de estudo, engenharia, avanços militares e, principalmente, da curiosidade humana em entender como funciona o invisível. A descoberta de que é possível enxergar no escuro não só mudou os rumos da guerra, mas também iluminou muitas áreas da vida civil, mostrando que a verdadeira escuridão, muitas vezes, é apenas uma questão de não ter a tecnologia certa.